Opinião
Diálogo é fundamental
Em tempos de novos desafios sociais e econômicos gerados pela pandemia do Covid-19, transparência e evidências científicas compartilhadas são ferramentas que não podem ser esquecidas
Em tempos de novos desafios sociais e econômicos gerados pela pandemia do Covid-19, transparência e evidências científicas compartilhadas são ferramentas que não podem ser esquecidas
13 de agosto de 2020 - 12h00
Imagem do documentário Muito Além do Peso (Crédito: Reprodução)
Há oito anos, a Coca-Cola Brasil e o Instituto Alana iniciaram um diálogo que, para muitos, parecia improvável. A conversa começou logo após o lançamento do documentário Muito Além do Peso, que tratava do impacto da obesidade infantil no Brasil e no mundo.
Fruto de uma longa trajetória da Maria Farinha Filmes e do Instituto Alana na sensibilização e na mobilização da sociedade sobre os problemas decorrentes do consumismo na infância, o filme de 2012 alertava para o resultado devastador dos apelos de mercado voltados ao público infantil e propunha uma reflexão sobre questões como ética e responsabilidade da sociedade, das empresas, da família e do Estado na proteção da criança frente às relações de consumo. Muitas marcas foram expostas no documentário, inclusive bebidas do portfólio da Coca-Cola Brasil .
Por parte da Coca-Cola Brasil, a reação interna ao filme foi forte, mas prevaleceu a ideia do diálogo, por acreditar na importância de trocar e fazer parcerias não só com quem endossa, mas também com quem discorda. A empresa mostrou toda a sua maturidade ao sinalizar que estava pronta para conversar e encarar discussões francas sobre assuntos sensíveis. Como já possuía uma política interna de marketing responsável, não foi difícil perceber que, afinal, essa era uma agenda que poderia abrir o diálogo entre atores, a princípio, divergentes. E aos poucos, as duas partes foram exercitando a arte da escuta atenta e sem julgamentos.
Do lado do Instituto Alana, a tentativa de dialogar com as empresas sempre precedeu as ações, inclusive jurídicas, de seu programa Criança e Consumo, como forma de sensibilizá-las sobre a larga produção científica a respeito da importância da proteção da criança frente à comunicação mercadológica. O Instituto Alana sempre acreditou no diálogo como uma potente ferramenta para a transformação e melhoria de paradigmas e valores sociais em prol das pessoas e da coletividade. Não por outra razão, aceitou o convite para a primeira reunião na sede da Coca-Cola um mês depois de ter lançado o documentário.
Poucos meses depois dessa primeira conversa, a The Coca-Cola Company divulgou publicamente, em jornais do mundo todo, comunicado com seu compromisso corporativo de “não dirigir publicidade a crianças menores de 12 anos em nenhum lugar do mundo”. A empresa disse a seus consumidores, de todos os países, que entendia que crianças até essa idade estão em formação e não podem decidir sozinhas o que consumir com equilíbrio e variedade. Com isso, alardeou sua política interna para que fosse passível de controle social por qualquer pessoa, indivíduo ou organização.
Aquela acabou sendo a primeira de inúmeras outras reuniões entre Instituto Alana e Coca-Cola Brasil, nas quais ambos os lados ouviram-se mutuamente, apresentaram seus pontos de vista, suas visões de mundo e reflexões, sempre pautados no respeito recíproco. Inclusive, todo ano o Instituto Alana participa de uma reciclagem de formação de todos os profissionais envolvidos em campanhas publicitárias da Coca-Cola Brasil, em uma construção constante de horizontes possíveis e compartilhados.
Depois de nova rodada de conversas, em 2015, a Coca-Cola Brasil reforçou sua política com o compromisso de não ter crianças como protagonistas em suas campanhas publicitárias, tanto na TV, quanto na internet. Em 2016, a Abir – Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e de Bebidas não Alcoólicas, da qual a Coca-Cola Brasil faz parte, anunciou que seus membros comprometiam-se a não fazer comunicações de marketing em escolas com crianças abaixo de 12 anos. A importância do diálogo ficou tão evidente para as duas organizações que, no ano de 2017, a plataforma Videocamp do Instituto Alana, lançou edital de fomento ao cinema justamente sobre o tema ‘diálogos’, com patrocínio da Coca-Cola Brasil.
Grandes problemas merecem grandes soluções. Em tempos de novos desafios sociais e econômicos gerados pela pandemia do Covid-19 no Brasil e no mundo, o diálogo pautado pela transparência e por evidências científicas compartilhadas é uma ferramenta que não pode ser esquecida. Somente assim, horizontes e caminhos compartilhados poderão ser construídos, inclusive o da proteção da criança com absoluta prioridade como projeto de sociedade e de país.
*Crédito da foto no topo: JBKdviweXI/ Unsplash
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